A vida de gestores artísticos e produtores culturais não é fácil, como muitos podem pensar.
Para esclarecer sua função, esse profissional é quem planeja e ordena projetos de conteúdo artístico-culturais tais como espetáculos de dança, teatro ou música, produções cinematográficas, mostras competitivas ou não, festivais, atrações e congêneres artísticos. Nessa gestão, o produtor tem de providenciar todas as fases do processo para a construção da obra, o que engloba captação de recursos, definição de cronograma, acompanhamento da execução, até chegar ao final, quando é apresentado o relatório de conclusão. O trabalho exige uma maratona, um verdadeiro corre-corre em busca de investimentos para que, no produto, final não haja qualquer desfalque, assim podendo atender às expectativas do público.
É nessa difícil busca que conhecemos pessoas de vários níveis e concepções culturais. Existem aquelas que acolhem, entendendo o significado da cultura, da arte e o retorno que esse modo de atividade presta ao serviço social por meio da sua produção; e existem aquelas que, sob a sombra da ignorância, criticam, esnobam ou mesmo não prestam a devida atenção nas fundadas justificativas que elevam esse trabalho às glórias da humanidade. E é somente assim, considerando o resultado proporcionado por esse exercício, que um produtor cultural transpassa os impedimentos, enfrentando com disposição e superação os tantos descréditos.
Nessas idas e vindas, visitas e mais visitas, sob uma perspectiva insistente para alcance do numerário que possibilite a realização de um evento cultural, o produtor acaba por se tornar, ao olhar dos pessimistas, um grande “incomodador”. De fato, tentar persuadir, às vezes, necessita tempo, muita conversa, o interlocutor deverá saber que discurso vai acabar por mexer no bolso dele, e é claro que isso incomoda. No entanto, esse “incômodo”, para quem sabe de seu objetivo, entende o quanto ele é necessário. Em verdade, deixaria de ser um “incômodo” no instante que o abordado reconhecesse a aplicação de acordo com o seu valor humano universal, muito além das perspectivas egoístas difundidas pelo capitalismo.
Por esses dias, talvez por esse considerado “incômodo” que cumpre minha função, fui indiretamente declarado “moleque”. A palavra “moleque” tem vários significados e a maioria é ofensiva e até preconceituosa. Entretanto, a mesma palavra resguarda parte de sua acepção para algo positivo. Tomei a liberdade de acrescentar a esse termo a mim deliberado o qualificativo “arteiro”, até para melhor caracterização da função; portanto, no conjunto, resultou-se em “moleque arteiro”. Vale ser posto que, se ser moleque é cumprir todas as funções de um produtor que vê na cultura uma ferramenta de desenvolvimento humano, de estímulo para a cidadania e para a criatividade, de realização social, seja de ricos ou de pobres, tornando-a um objeto de democratização do conhecimento, da lucidez, de valores reais, ainda que se valha de uma busca insistente de ferramentas para esse fim, a verdade é que quero continuar sendo esse “moleque”, até mesmo daqui a uns trinta anos, quando então atingirei a idade desse meu (quase) ofensor, mais que ninguém, um tão necessitado de muita molecagem.
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